Wednesday, October 01, 2008

Homens que me compreendem melhor que própria - Parte VI


fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas:
fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes:
na rua onde os nossos olhares se encontram é noite:
as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas,
tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam:
nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem:
o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo,
tempestades de medo nos lábios a sorrir:
será que vou morrer?, pergunto dentro de mim:
será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte:
fingir que está tudo bem: ter de sorrir:
um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.

José Luis Peixoto

1 comment:

Anonymous said...

Todos nós, de vez em quando trazemos uma chama dentro de nós que nos consome...

CDiogo