Wednesday, February 25, 2009

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Foto by Imogene Munday

Perdi-me. Assumo. E não me consigo encontrar. Baixei as armas, rendo-me... Perdi as forças, perdi a vontade, perdi a coragem. Perdi os sorrisos, perdi a espontaneidade, perdi a verdade. Perdi confiança, perdi palavras, perdi-me nas esperanças, perdi-me nas ansiedades. E não me consigo encontrar. Se calhar, o tempo ajudar-me-à a ser eu novamente e a perder o medo, que foi a única coisa que ganhei no meio de tudo isto.



Wednesday, February 11, 2009

Mais um roubo*

Não sabemos nada.
Nunca saberemos se os enganados são os sentidos ou os sentimentos, se viaja o comboio ou a nossa vontade se as cidades mudam de lugar ou se todas as casas são a mesma.
Nunca saberemos se quem nos espera é quem nos deve esperar, nem sequer quem temos de aguardar no meio de um cais frio. Não sabemos nada. Avançamos às cegas e duvidamos se isto que se parece com a alegria é só o sinal definitivo de que nos voltámos a enganar.
Amalia Bautista

* do único sítio que tem a coragem de assumir que tudo isto é um erro, mesmo que se dance

Tuesday, February 03, 2009

Dos Medos

Imagem de José Lopes


Não há outro Eu. Há apenas outro lado. Outros lados. E por muito que não queira, não estou sozinha nesta aventura. E cada lado meu é inevitavelmente afectado por outros lados de outros alguéns. E os meus outros lados, por sua vez, afectam também os alguéns que por aí andam.
Não há sonhos nem ilusões. Há apenas a movimentação silenciosa e incessante da existência que nos leva ao dia de amanhã, e ao depois de amanhã, até já não haver mais dias para nos levar.
Não há príncipes nem princesas. Há apenas gente. Que vai andando de dia em dia, até chegar aquele dia em que se completou e entendeu.
Não há princípio. Há ciclos eternos de vícios, de hábitos e de manias que nos fazem crer que algo se constrói.
Não há fim. Há recomeços constantes daquilo que acabou.




Monday, February 02, 2009

Homens que me compreendem melhor que eu própria - Parte VIII

Amor

Cala-te, a luz arde entre os lábios, e o amor não contempla, sempre o amor procura, tacteia no escuro, essa perna é tua?, esse braço?, subo por ti de ramo em ramo, respiro rente á tua boca, abre-se a alma à lingua, morreria agora se mo pedisses, dorme, nunca o amor foi fácil, nunca, também a terra morre.


Eugénio de Andrade


Imagem d'aqui