Afinal, quem é que é provinciano?

(Os meus amigos de Lisboa (que são poucos mas bons) que me perdoem por este texto, mas também eles não precisam de me perdoar muito porque sabem que não estou a falar deles...)

Os lisboetas são incultos e preconceituosos. É um facto. é daqueles factos que comprovamos várias vezes ao longo da vida, na própria pele (ninguém nos conta) e por isso não há discussão sobre isto...

Hoje ao ler um blog do qual sou seguidora deparo-me, no fim de uma descrição fantástica sobre uma experiência da autora, com a afirmação de que a autora só de pensar que poderia ter de trabalhar e viver fora de Lisboa dava-lhe um fanico... Para mim é muito mais que isso. Acredito que se deverá tratar de uma excelente pessoa, pela maneira como escreve e por muitas das ideias que apresenta. Mas o facto de escrever isto só revela que, afinal, é mais uma menina mimada de Lisboa que igual a tantos outros meninos e meninas transformam Lisboa em Portugal e "o resto é província".

É lamentável que, em pleno século XXI, meninos e meninas das gerações de 70, 80 e 90 continuem sem saber se Évora é no Alentejo ou no Minho e que existe uma terra chamada Cuba para além da ilha de Fidel, etc, etc... gastam mais dinheiro a visitar outros países, nos quais até exploram aldeias e lugarejos mas nunca visitaram Piodão ou Ponte de Lima, nem tão pouco sabem da melancolia das populações das nossas vilas piscatórias que trazem na pele vidas de luta e de mar...

Lembro-me de chegar a Lisboa (cidade onde morei durante 7 anos e que adoro!), em 2000, e ser a rapariga da turma que mais conhecia cidades e locais fora de Lisboa e não, não é porque tive oportunidade de viajar, é porque quero e sempre quis conhecer.

Tive as mesmas oportunidades de ensino e de acesso à cultura e à informação que todos os meus colegas de faculdade, portanto, a única razão que vejo para que não saibam nada do país de onde são naturais é pelo simples facto de terem nascido em Lisboa. Nascer em Lisboa é sinónimo de "eu não tenho de sair daqui para conhecer o meu país. O meu país se quiser, venha até cá conhecer-me!".

Não se julgue, no entanto, que o fenómeno é um exclusivo lisboeta. Existem as devidas "excepções provincianas" - meninos e meninas (da minha cidade então é aos pontapés) que voam para a capital em períodos universitários e fazem questão de nunca referir as suas regiões de origem. No entanto, gostam de criticar as suas cidades de origem sem nunca terem feito nada por mudar nada... lembro-me (a título de exemplo) de uma amiga que criticava o teatro amador da nossa cidade, comparando-o ao teatro profissional de Lisboa. É então que me ocorre perguntar-lhe se alguma vez ela tinha ido ao teatro na nossa cidade e a resposta foi: "Não!"...

E depois tiram formações superiores para promover opiniões e pareceres e afins...

Tenho pena que assim seja. Tenho pena que malta da minha idade seja assim, tão tacanha. Mais tacanha do que a menina que guardava ovelhas (da reportagem da SIC...), porque essa é assim por não ter acesso a mais nada...